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28 de dezembro de 2013

Ai de mim.

O que eu mais odeio é esse meu lado racional e dedutivo. Ele simplesmente me derrota e me deixa em frangalhos todos os dias. Não me deixa ficar tranquilo nas situações mais pífias, ele sempre sabe que algo vai acontecer. E odeio mais ainda quando ele acerta.

A pior sensação é quando começo a notar sinais de que algo está fora de ordem. Minha mente vai reunindo evidências, meu coração relutando. Até que eu começo a implorar para que esteja errado. Que esteja tudo mal contado e calculado, que nada passe de um paranoia, um devaneio passageiro. Acontece que não passa e logo se prova real e verdadeiro. Eu desabo.

Isso se repete num movimento constante, no ritmo da vida. Nos relacionamentos principalmente. Eu me vejo morrendo em cada uma das vezes, mas, de alguma forma, continuo aqui. Eu odeio estar certo, porque eu sofro até o desfecho. E se não há desfecho, mantenho-me em sofridão. Seja, talvez, meu carma, se é possível essa teoria. Seja meus demônios, se aceitável essa também. Ou simplesmente falta de terapia, que, acredito, seja a mais razoável.

De qualquer forma, continuo me apegando, me entregando, com as vozes do raciocínio gritando para me precaver. Mas eu não quero! Não aceito que vai dar errado. Eu mereço que dê tudo certo, eu mereço, dessa vez, ficar tranquilo. Limpem minha mente, eu imploro. De mão atadas, imploro.

E então, de novo. Eu no chão, sem perspectiva: eu sabia. Eu sabia e não me preparei. Eu sabia e não quis aceitar. Por que diabos eu tinha de saber? A culpa é mais branda se não se tem conhecimento do risco! A culpa não mata se não há intensão de dar fim à tentativa. Mas eu vou até o fim, me rebato, de braçadas eu chego até o final de tudo, apenas para me afogar. É uma caminhada para o abismo, com placas e sinalizações.

Suicida. Pudera ser na acepção mais crua da palavra. Mas estou mais fiel ao significado de covardia. Que se rende ao medo de encarar os fatos e prefere despencar do alto de uma mentira. Ou talvez haja algum pingo de coragem em desafiar a razão e se jogar no meio de toda a sorte lançada. Não tenho as resposta, por isso escrevo. É a tentativa de entender: jogando todo esse embaraço de sentimentos, ilegíveis e desformalizados, depois encaixando em sílabas e períodos, na esperança de aparecer algum sentido mais claro e reconfortante. Mas, na maior parte das vezes, saem só angústia e mágoa.

Regurgitar todos os sentimentos provados aqui é uma tentativa fugaz de exortar o escuro e sombrio vazio que empurra o coração contra o pulmão, aprisionando-os e sufocando o agir de ambos. Nem respiro, nem meu sangue bombeia. Quem aguenta viver dessa forma incompleta? Se nem meu corpo age da forma como deveria, se nem a anatomia e a ciência fazem sentido ao se falar de amor...

Eu viveria cem anos e cem anos morreria. Muito mais morto que vivo. Como tem sido. Aprisionado entre o real e o querer. Burro! Eu deveria ser um tapado. Sem visão e perspectiva poderia ter mais paz. Como o cordeiro, morrer enganado, em silêncio, sem entender, e, quem sabe, não sofrer tão forte como agora.

Estou entregue nestas linhas, porque a vida já me levou toda a estrutura. Derramo aqui o que me resta de matéria, tudo o que me sobrou. E, ai de mim, é só obscuridade e desesperança.

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